No dia 4 de dezembro de 2025, Cajazeiras transcendeu seu papel histórico de polo educacional na Paraíba para se consolidar como um dos pontos principais da “Rota 230” da inovação estadual. O Inova PB 2025, realizado no espaço La Fiesta, reuniu os sete hubs de inovação paraibanos fomentados pela SEBRAE/PB, em um encontro que transcendeu o protocolo institucional para se tornar um laboratório vivo de colaboração territorial.
Conectando hélices, transformando territórios
O tema do encontro “Conectando hélices para transformar territórios”, não foi escolhido por acaso. Ele sintetiza a principal aposta estratégica do Sebrae/PB e seus parceiros: a inovação só gera impacto real quando articula, de forma coordenada, as quatro hélices da inovação e motores do desenvolvimento, empresas, governo, academia e sociedade civil organizada.
Na prática, isso significou colocar na mesma sala, por exemplo, os atores do Hub Caatinga Valley com pesquisadores do IFPB, gestores públicos de Monteiro com empresários de João Pessoa, articuladores do Dino Valley com representantes do E.InovCG. Sete hubs, sete territórios, uma única rede pulsante de possibilidades.
Uma programação enxuta, mas certeira
Diferente de eventos carregados de painéis intermináveis, o Inova PB apostou na simplicidade estratégica. O encontro começou pela manhã com um momento fundamental: a apresentação dos resultados, avanços e desafios dos sete hubs paraibanos ao longo de 2025.
Foi um exercício de transparência e aprendizado coletivo. O encontro funcionou como um grande momento de balanço: os hubs tiveram espaço para falar de resultados, aprendizados e desafios que vêm encontrando na construção dos seus Ecossistemas Locais de Inovação. Em vez de apenas celebrar conquistas, a dinâmica estimulou uma troca franca sobre avanços, gargalos e próximos passos, fortalecendo a capacidade coletiva de planejar o futuro da inovação na Paraíba.
Na prática, isso significou colocar na mesma roda experiências de regiões com diferentes níveis de maturidade, desde ambientes com maior densidade de atores e iniciativas até territórios que ainda estão consolidando suas bases institucionais e seus marcos de política pública. Esse contraste de trajetórias permitiu que temas como fortalecimento de cadeias produtivas locais, articulação com universidades, desafios de interiorização da inovação e construção de instrumentos legais aparecessem como dimensões complementares de uma mesma agenda.
Mais que prestação de contas, a manhã foi espaço de troca genuína. Os hubs perceberam que seus desafios eram espelho uns dos outros: dificuldade em acessar recursos, necessidade de profissionalizar gestão, importância de medir impacto, urgência em engajar o setor privado. E também descobriram que soluções desenvolvidas em um território poderiam ser adaptadas para outros.
Desse rico momento de compartilhamento emergiu uma conclusão consensual: os avanços de 2025 exigem institucionalização. Não basta encontrar-se uma vez por ano. É preciso criar um grupo de trabalho com agenda mensal, formalizar a rede, manter viva a chama da parceria. A inovação e o empreendedorismo na Paraíba só ganharão escala se os sete hubs operarem de forma coordenada, compartilhando metodologias, recursos, oportunidades e aprendizados. O Inova PB plantou a semente; agora é hora de regar mensalmente.
À tarde, a programação seguiu com três momentos centrais: um painel temático que olhou para fora, um bloco de storytelling que olhou para dentro, e uma palestra conceitual que organizou o todo.
O painel “Conexões que Transformam” trouxe Thiago Galdino, do Kariri Valley (Juazeiro do Norte/CE), e Alex Duarte, do Caruá Hub (Caruaru/PE), para compartilhar experiências de construção de ecossistemas no interior nordestino. A mensagem foi clara: Cajazeiras não está sozinha. Cidades médias do Nordeste estão provando que inovação não é privilégio de capitais, mas resultado de articulação inteligente entre atores locais.
Guilherme Alves, embaixador da Campus Party, comandou o momento “Se Lascou, Mas Deu Certo” – um exercício refrescante de honestidade sobre os fracassos, pivôs e recomeços que fazem parte de qualquer jornada empreendedora. Em um país onde se celebra muito o sucesso e pouco o aprendizado, esse espaço de vulnerabilidade criou conexão genuína entre os participantes.
A palestra de Bruno Stefani sobre “Anatomia de um Ecossistema” foi o ponto alto conceitual do evento. Ex-diretor global de inovação na Ambev e criador do Zé Delivery, Stefani trouxe o olhar de quem transitou entre grandes corporações e startups para dissecar os cinco atores essenciais da inovação: empresas, governo, academia, sociedade civil e ambiente financeiro. Sua fala ecoou diretamente na metodologia de quatro hélices que estrutura os hubs paraibanos, reforçando que inovação não é sobre tecnologia, é sobre pessoas, propósitos e articulação.
Sete Hubs, Um Ecossistema
A presença dos sete hubs, Caatinga Valley (Cajazeiras), Farol Digital (João Pessoa), E.InovCG (Campina Grande), Brejo Tech (Guarabira), Novo Cariri (Monteiro), Sol Tech (Patos) e Dino Valley (Sousa), não foi apenas simbólica. Cada caravana trouxe consigo um pedaço da Paraíba: a densidade tecnológica de Campina Grande, a vocação universitária de João Pessoa, a força do agronegócio do Brejo, a resiliência do Cariri, a criatividade do Alto Sertão.
Quando Bruno Stefani falava sobre a necessidade de conectar atores, estava descrevendo exatamente o que acontecia no La Fiesta: gente de territórios diferentes descobrindo desafios comuns, soluções replicáveis, oportunidades de colaboração. A fragmentação, maior inimiga dos ecossistemas de inovação, perdia terreno a cada conversa de corredor, a cada cartão trocado, a cada parceria esboçada.
Além do networking: impactos concretos
O Inova PB não é uma ilha. Ele se insere em um movimento mais amplo de interiorização da inovação na Paraíba que vem sendo construído desde 2020. Os hubs paraibanos já demonstram resultados tangíveis.
O encontro em Cajazeiras funciona como ponto de convergência de agendas que vinham sendo tecidas separadamente em cada território. Ao reunir todos os hubs no mesmo espaço, o Sebrae/PB e o Caatinga Valley, como anfitrião do evento, criaram as condições para que a soma das partes se tornasse maior que o todo: soluções testadas em Guarabira podem inspirar Sousa; metodologias de João Pessoa podem ser adaptadas para Monteiro; desafios de Patos podem encontrar respostas em Campina Grande.
Um elemento transversal permeou todas as discussões: a sustentabilidade. Não como discurso vazio, mas como imperativo estratégico para um estado marcado pelo semiárido, pela urgência climática e pela necessidade de diversificar sua base produtiva. Os hubs paraibanos entendem que inovação sustentável não é nicho, é uma das verticais da inovação que faz sentido em 2025.
Isso aparece nos cases compartilhados: abatedouros que conquistam certificação de qualidade com gestão inovadora de processos, agroindústrias que incorporam economia circular, startups que desenvolvem soluções para uso eficiente de água, empresas que adotam energias renováveis. A inovação paraibana não quer apenas gerar riqueza – quer gerar riqueza que dure, que inclua, que regenere.
Cajazeiras no centro do mapa
Para Cajazeiras, sediar o Inova PB 2025 teve significado especial. Cidade conhecida por sua tradição educacional, está provando que pode ser também polo de criatividade, tecnologia e empreendedorismo. O Caatinga Valley, como hub anfitrião, demonstrou capacidade de mobilização e articulação ao trazer parceiros de peso para o centro da conversa.
A construção da Lei de Inovação de Cajazeiras, liderada pelo IFPB e parceiros, é exemplo concreto do que acontece quando um hub funciona como catalisador de políticas públicas. O Inova PB reforçou esse protagonismo, mostrando que o Alto Sertão não está na periferia do ecossistema de inovação paraibano, está no centro, ditando ritmo, apontando caminhos.
O Papel do Sebrae/PB
O Sebrae/PB merece crédito especial pela visão estratégica que estrutura a rede de hubs. Ao invés de concentrar recursos e atenção apenas nas capitais ou polos consolidados, a instituição apostou na capilarização da inovação pelo interior. Cada hub recebe metodologias, financiamento, acesso a especialistas e, principalmente, legitimidade institucional para articular seu território.
Essa abordagem dialoga com políticas públicas mais amplas: programas de inovação industrial em parceria com FIEP/SENAI, iniciativas do governo estadual voltadas à economia digital e de impacto, ações da Secties e Fapesq. Os hubs funcionam como plataformas de aterrissagem dessas políticas no território, traduzindo programas estaduais em ações locais, conectando oportunidades nacionais com empreendedores regionais.
Para além do evento
O verdadeiro teste do Inova PB 2025 não aconteceu no dia 4 de dezembro, mas começará nas próximas semanas e meses. As parcerias esboçadas virarão projetos concretos? As lições compartilhadas serão aplicadas nos territórios? Os hubs conseguirão manter o ritmo de colaboração ou voltarão para suas bolhas regionais?
A resposta depende da capacidade de cada hub de transformar networking em trabalho colaborativo, de converter inspiração em planejamento, de traduzir discursos em entregas. O Sebrae ofereceu a plataforma, Bruno Stefani ofereceu o conceito, os painelistas nordestinos ofereceram os casos de sucesso. Agora é hora dos sete hubs paraibanos mostrarem que a rede está viva, ativa, gerando resultados.
Um recado para quem ainda duvida
O Inova PB 2025 em Cajazeiras mandou um recado claro para quem ainda acha que inovação é assunto de Silicon Valley ou Faria Lima: o futuro está sendo construído também na Rota 230 na PB. Em cidades médias do Nordeste, onde pessoas criativas, empreendedores determinados, pesquisadores engajados e gestores públicos visionários estão provando que desenvolvimento territorial com inovação não é utopia e sim método.
Sete hubs, sete territórios, uma única convicção: a Paraíba que queremos não virá de fora. Será cocriada por nós, conectando hélices, transformando territórios, gerando impacto positivo na vida das pessoas.


