
No ritmo acelerado do universo da inovação, muitas vezes nos perdemos entre algoritmos, inteligência artificial e gadgets futuristas. Mas e se a maior tecnologia de todas não estivesse em um chip, mas na capacidade humana de se conectar? É no encontro, na conexão autêntica entre pessoas e propósitos, que a verdadeira transformação acontece — e se expande, de ecossistemas locais a redes globais.
Foi exatamente essa sensação que o NEON 2025 despertou em mim — e em tantas outras pessoas que vivenciaram intensamente dias de imersão e trocas. O que vimos ali foi mais do que um evento: foi um retrato vivo da força que surge quando os ecossistemas se reconhecem, se respeitam e se fortalecem mutuamente.
A força começa no território
Antes de pensarmos em conexões globais, é preciso reconhecer o valor das redes locais. A Paraíba já conta com sete Ecossistemas Locais de Inovação em funcionamento: Campina Grande, João Pessoa, Sousa, Cajazeiras, Guarabira, Monteiro e Patos. São ambientes onde universidades, empresas, poder público e a sociedade civil que atuam de forma integrada, gerando desenvolvimento com identidade e propósito.
O E.InovCG, em Campina Grande, é um desses espaços vivos — e tem exercido com força o papel de articulador. A partir da hélice quádrupla (academia, governo, empresas e sociedade civil), buscamos integrar inteligências locais e construir soluções que façam sentido para quem vive aqui. Mas o que o NEON nos ensinou, mais uma vez, é que a potência dos territórios cresce quando se conecta com outras potências, projetando sua identidade e suas soluções para além das fronteiras locais.
O ônibus do NEON: quando a viagem já é parte da experiência
A missão da Paraíba ao NEON foi mais do que logística — foi simbólica. Desde o ônibus que nos levou a Teresina, passando pelas conversas no hotel e as visitas à Feira, sentimos a importância de olhar para o lado e reconhecer ali alguém que está lutando pelos mesmos sonhos, em contextos distintos.
Foi nessa jornada que percebemos o quanto a conexão entre os próprios ecossistemas paraibanos ainda pode ser fortalecida. Muitas vezes, não sabemos o que acontece na cidade vizinha. E o NEON foi um grande catalisador dessa integração, fortalecendo vínculos, redes de confiança e possibilidades de colaboração entre atores do mesmo território.
Nordeste em rede, Brasil em expansão
Durante o evento, os ecossistemas do Nordeste se apresentaram com protagonismo. De Salvador a Mossoró, de Caruaru a São Luís, de Campina Grande a Aracaju — o que vimos foi um tecido colaborativo em formação. A Praça dos Ecossistemas Nordestinos não era apenas uma exposição de marcas ou programas; era uma praça de afetos, aprendizados e possibilidades de negócios.
Essa articulação regional é estratégica. Ela fortalece cadeias produtivas, estimula a circulação de talentos, compartilha boas práticas e reduz desigualdades históricas de acesso a recursos e visibilidade.
Eventos como o NEON também funcionam como plataformas abertas de conexão com o Brasil inteiro. Mesmo sem nos aprofundarmos diretamente com todos os grandes ecossistemas do país, como São Paulo, Recife ou Florianópolis, pudemos perceber a riqueza e a diversidade da inovação brasileira. Isso reforça a urgência de ampliar as pontes entre os ecossistemas nordestinos e as demais regiões do Brasil, construindo, de forma colaborativa, um país mais integrado, inteligente e justo.
Conexões que atravessam o oceano
As conexões internacionais também fazem parte dessa rede que pulsa. Durante o NEON, tivemos contato com experiências de fora do Brasil que iluminam novos caminhos possíveis.
Como em Portugal, por exemplo, o município do Fundão se tornou referência mundial por apostar em inovação descentralizada. Com uma população de pouco mais de 13 mil habitantes, o Fundão criou um dos ecossistemas mais promissores da Europa, apoiado por políticas públicas locais, investimentos em educação e incentivos para atrair startups.
Já o Porto Digital Europeu se consolida como um polo de tecnologia e criatividade. Com forte articulação entre universidades, governo e setor privado, o ecossistema movimenta bilhões de euros por ano e gera milhares de empregos qualificados — provando que inovação se constrói com estratégia e pertencimento.
Do outro lado do oceano, o Vale do Silício é, sem dúvida, o mais conhecido ecossistema de inovação do planeta. Mas antes de ser o que é hoje, foi uma região de pequenos laboratórios e centros de pesquisa universitários. A transformação aconteceu porque havia um ambiente propício, feito de confiança, diversidade, educação de excelência e financiamento a longo prazo.
Esses três exemplos mostram que não é o tamanho do território que define seu potencial, mas a intencionalidade, o compromisso coletivo e a constância na construção de um ecossistema forte. É esse caminho que também estamos trilhando aqui em Campina Grande, na Paraíba, no Nordeste do Brasil, com coragem e afeto.
Conexões que viram negócios e impacto
Mais do que palestras ou pitches, os corredores do NEON foram palcos de encontros inesperados — que já começaram a se desdobrar em novas parcerias, mentorias, colaborações entre startups, articulações entre instituições e convites para projetos interterritoriais.
E é aqui que reside o verdadeiro valor de um ecossistema: não é apenas quem está nele, mas o quanto ele se abre para aprender, compartilhar e construir em conjunto. Não se trata de competir por visibilidade, mas de cocriar relevância, onde a inteligência e a confiança humanas são os verdadeiros motores. Porque os ecossistemas vivos são movidos por confiança e visão de longo prazo.
De Campina para o mundo
O E.InovCG saiu do NEON com mais clareza sobre seu papel: ser ponte entre saberes, territórios e propósitos. Estamos conectados localmente, mas com os olhos abertos para o Brasil e para o mundo. Não por vaidade ou marketing, mas porque acreditamos que a inovação real precisa de chão, de gente e de visão compartilhada.
A nossa missão agora é seguir cultivando essas conexões. Não apenas com eventos pontuais, mas no dia a dia, nas rotinas dos projetos, nas reuniões estratégicas, nas mentorias, nas rodas de conversa. Porque ecossistemas não se constroem apenas com estruturas ou códigos — se constroem com vínculos, com gente.
“Ecossistemas que se conectam são ecossistemas que respiram. Porque quando a inovação encontra gente, propósito e território, ela deixa de ser tendência e passa a ser transformação.” — Julianna Dutra
