
Durante a corrida do ouro, poucos enriqueceram garimpando. Quem realmente prosperou vendia pás, panelas e ilusões. A economia dos dados, a mais promissora do século XXI, segue a mesma lógica — e poucos percebem isso. Enquanto multidões se apinham em cursos, bootcamps e perfis de LinkedIn padronizados, a pergunta que ecoa no silêncio dos servidores é: quem está realmente ganhando com essa nova corrida?
Vivemos numa era em que a informação é chamada de “novo petróleo”. Mas petróleo bruto não move carros, não acende lâmpadas. É preciso refinamento, contexto, estrutura. O mesmo vale para os dados. E aqui está a primeira ilusão: muitos acham que colecionar gigabytes é o mesmo que gerar valor. É como guardar barris sem saber queimar. Acumulam-se dashboards, pipelines e buzzwords, mas a verdade nua e crua permanece: a maioria dos dados não serve para nada — e a maioria dos profissionais também não sabe o que fazer com eles.
O império dos cursos e a padronização do pensamento
Nunca foi tão fácil parecer um profissional de dados. Uma sequência de cursos, um projeto clonado do GitHub, um post com emojis no LinkedIn, e pronto: mais um “Data Specialist” nasceu. O problema é que, como diria Edgar Morin, “nunca o homem soube tanto sobre tão pouco”. Estamos formando especialistas rasos, que sabem utilizar ferramentas, mas não compreendem princípios. Que dominam o clique, mas não a causa.
Os cursos prometem tudo: “do zero ao emprego dos sonhos”, “do iniciante ao sênior em 3 meses”. A pedagogia da ilusão. E nesse ritmo alucinado, a técnica vira muleta, o diploma vira adorno, e o aprendizado verdadeiro — aquele que dói, que exige pensamento crítico, que confronta o ego — é jogado para escanteio.
Empresas analfabetas em dados contratando analistas de dados
A tragédia se completa no outro lado do balcão: empresas que mal sabem o que é governança de dados criando vagas com 15 pré-requisitos para um salário medíocre. Contratam cientistas de dados para criar gráficos coloridos e depois reclamam que o investimento não trouxe retorno. É como comprar um telescópio de última geração e usá-lo para espantar pombos.
As lideranças, por sua vez, embriagadas pelo FOMO (fear of missing out), correm atrás da moda: ora é Data Lake, ora é IA generativa, ora é Fabric. Não importa o que seja, contanto que pareça moderno. E assim se gasta fortuna com tecnologias que viram sucata em seis meses, porque não havia uma estratégia real por trás. Apenas o desespero de parecer inovador.
A farsa dos cases de sucesso
LinkedIn se tornou o palco de um teatro coletivo. Ali, todos os projetos deram certo. Todos os clientes amaram. Todos os cursos foram transformadores. É o lugar onde a realidade vai para morrer e o ego para se alimentar. Não se compartilham erros, dilemas éticos, nem discussões relevantes. Só reels com legendas motivacionais e fotos de certificados. É a meritocracia da aparência.
Quantos desses “cases” aguentariam uma auditoria técnica séria? Quantos dashboards bonitos são, na prática, apenas interfaces que ninguém usa? Quantos pipelines complexos existem apenas para justificar a contratação de um time inteiro? A resposta, se conhecida, faria tremer a base de muitos CVs.
Para onde vamos, afinal?
A economia dos dados não é uma moda. Ela é, de fato, o presente e o futuro. Mas o que estamos construindo hoje — com pressa, vaidade e improviso — pode se tornar um castelo de areia digital. O que falta não é tecnologia. É profundidade. É reflexão. É ética. É coragem de admitir que, para gerar valor com dados, é preciso mais do que aprender Python e Power BI.
É preciso aprender a fazer perguntas. Boas perguntas. Perguntas que incomodam.
- Por que estou criando esse relatório?
- Esse dado é confiável?
- Esse modelo deveria mesmo ser automatizado?
- Essa informação está servindo à empresa ou ao ego de quem a criou?
Essas perguntas não estão em nenhum curso. Estão na mente dos profissionais que entenderam que dados são, antes de tudo, um reflexo da sociedade. E que, portanto, devem ser tratados com responsabilidade, contexto e — por que não? — humildade.
A contramão como caminho
Se tudo está ficando raso, aprofunde-se.
Se todos gritam, escreva em silêncio.
Se todos vendem, ofereça perguntas.
Se todos ostentam, mostre vulnerabilidade.
O futuro da economia dos dados pertence não aos que acumulam certificados, mas aos que sabem transformar dados em sabedoria. E sabedoria, meu caro leitor, é artigo raro.
Continue essa conversa ao vivo comigo.
Se esse texto fez você pensar — ou até se incomodar — então você é exatamente o tipo de pessoa que quero ver na nossa próxima live.
Vamos aprofundar essas ideias, abrir espaço para o contraditório, responder dúvidas e, principalmente, tirar a máscara da superficialidade que ronda a área de dados.
Data: 06/05/2025
Hora: 20 horas
Tema: “Carreira em Dados: Realidade, Desafios e Oportunidades que Poucos Contam
Onde: https://youtu.be/ADqBx02HZIU
Não será mais uma live com frases prontas.
Será um encontro para quem não quer apenas ser visto, mas realmente ver além.
Te espero.