O turismo sempre me interessou menos como indústria e mais como linguagem.É por meio dele que um território escolhe quais caminhos revela, quais histórias compartilha e que tipo de experiência oferece a quem chega. No Festuris 2025, em Gramado, durante os dias 06 a 08 de novembro, essa escolha ganhou contornos muito claros. Não era apenas uma feira de negócios turísticos — era um espaço onde diferentes formas de viver, circular e inovar começaram a se encontrar.
Ali, o turismo se apresentou como experiência, como cuidado e como conexão. Um campo capaz de ativar economias, mas também de tocar algo mais profundo: a relação das pessoas com o tempo, com o território e consigo mesmas. Não por acaso, em alguns lugares do mundo, experiências culturais e deslocamentos já são reconhecidos como parte de estratégias de bem-estar e saúde mental — não como fuga, mas como reconexão.
Enquanto milhares de profissionais cruzavam corredores cheios de sotaques, mapas e expectativas, algo se organizava em mim com clareza: o Brasil não está apenas vendendo destinos. Está começando a desenhar caminhos. Caminhos que unem inovação, cultura, ciência e afeto — e que ajudam o país, pouco a pouco, a narrar a si mesmo com mais consciência e coragem.
Onde o Brasil se torna visível — e onde o futuro se revela
O Festuris foi grandioso nos números — 17 mil profissionais, 64 destinos internacionais, 2.500 marcas expostas, certificações inéditas como o Selo XIS, novas rotas, tendências e narrativas. Mas, mais do que grande, ele foi revelador.
Revelou um Brasil que não cabe mais nas leituras antigas. Revelou que turismo não é só deslocamento: é economia criativa, tecnologia, longevidade ativa, diversidade, cuidado e imaginação coletiva – é acima de tudo um turismo de experiências.
Revelou que o país tem um posicionamento como poucos no mundo — capaz de unir natureza exuberante, ciência avançada, territórios criativos e o afeto que só quem viaja pelo Brasil entende.
E revelou, sobretudo, que estamos vivendo um momento em que turismo, inovação e desenvolvimento deixam de ser territórios separados e passam a caminhar juntos. Como escrevi em Conectar é Transformar , as conexões certas movem cidades inteiras. No Festuris, essa frase ganhou corpo.
O que os encontros de Gramado mostraram sobre nós
Nos dois dias de evento, enquanto participava das palestras, caminhava pelos stands e conversava com representantes do Brasil inteiro, percebi algo muito claro: o turismo está deixando de ser um setor e se tornando uma linguagem de futuro.
Daiane dos Santos nos lembrou que viajar não é privilégio — é pertencimento. E que idosos, negros, povos tradicionais e pessoas que por muito tempo foram invisibilizadas também têm direito a se ver no mapa.
Beto Lopes falou sobre IA com uma leveza que desloca o medo para o lugar certo: não tememos a tecnologia, tememos o que ainda não aprendemos a sentir diante dela.
Aline Miranda apresentou a importância de roteiros que carregam identidade, propósito e certificações que sustentam o território.
Pondé provocou ao lembrar que ninguém sabe o futuro — mas todos somos responsáveis pelo presente.
Candreva nos sacudiu ao afirmar que “o trending topic do futuro é o presente”.
Enquanto eu ouvia tudo isso, me dei conta de que Gramado não era só palco de tendências turísticas. Era palco de um Brasil que está tentando se entender como país de múltiplas inteligências, múltiplas economias e múltiplas narrativas.
E que belo é quando um país começa a se enxergar.
O turismo que abraça o tempo — e quem somos ao longo dele
Uma das presenças mais marcantes no Festuris foi a melhor idade. Não como grupo passivo, mas como força ativa, curiosa, empoderada. Eles participavam das palestras, faziam perguntas, experimentavam tecnologias, negociavam, observavam.
A imagem contraria a lógica de que inovação é assunto para os mais jovens. Ali, ficou claro que inovação também é maturidade, sabedoria e protagonismo.
Esse público nos mostra que o turismo não é apenas lazer — é saúde emocional, é autonomia, é memória, é movimento. E, ao pensar na Rota Caminhos da Inovação, percebi quantas possibilidades existem para conectar longevidade ativa com ciência, cultura, tecnologia e criatividade.
Afinal, como escrevi em A Maior Tecnologia do Mundo , a tecnologia mais transformadora é a humana. E humanos seguem transformando o mundo em todas as idades.
A Rota Caminhos da Inovação como diferencial do Brasil no mundo
Enquanto representava o E.InovCG no evento e apresentava a nossa Rota Caminhos da Inovação, senti algo que não é exagero dizer: o Brasil está preparado para um turismo de inovação — e Campina Grande está pronta para ser referência nacional e internacional.
Por quê?
Porque somos território de ciência, criatividade e afeto.
Porque aqui, inovação não é vitrine — é chão.
Porque carregamos um ecossistema vivo, diverso, pulsante, em constante construção, como descrevi em Muito Além do São João.
A Rota não mostra apenas laboratórios, startups e instituições.
Ela mostra pessoas, histórias, saberes, afeto, pertencimento.
Ela mostra:
o que Campina Grande inventa;
o que Campina Grande sente;
o que Campina Grande transforma;
e o que Campina Grande pode oferecer ao mundo.
E no Festuris, esse potencial ficou evidente. As conexões realizadas, os interesses manifestados, os convites recebidos, e até os olhares curiosos ao ouvir “turismo de inovação” mostraram que estamos, sim, propondo algo novo — e necessário.
Um Brasil que se coloca no mapa de um jeito diferente
O Festuris nos ensinou que o Brasil não precisa se vender como exótico, tropical ou folclórico para ser visto.
O Brasil precisa ser visto como ele é: um país criativo, inventivo, diverso, colaborativo e profundamente humano.
E o turismo é o caminho mais potente para revelar essa complexidade.
Não porque nos leva a lugares — mas porque nos devolve para nós mesmos.
Caminhos que transformam cidades, pessoas e futuros
Voltei de Gramado com a sensação de que estamos diante de uma travessia importante.
O turismo, a inovação e a longevidade não são temas separados.
Eles são parte de uma mesma narrativa: a narrativa de um Brasil que está aprendendo a imaginar o futuro com responsabilidade, coragem e profundidade.
E a Rota Caminhos da Inovação é uma peça desse movimento.
Uma peça pequena, talvez — mas necessária.
Uma peça que nasce do território, da escuta, da criação conjunta e da vontade de construir caminhos que façam sentido para quem vive aqui.
Porque quando o turismo encontra a inovação, não criamos apenas rotas.
Criamos caminhos que transformam pessoas, cidades e países inteiros.
— Julianna Dutra

