
Inaugurar uma coluna exige coragem e entusiasmo. Por isso, decidi que meu ponto de partida seria justamente onde hoje pulsa o meu coração: o universo dos dados. Trabalho nessa área, respiro esse mercado e acredito firmemente que ele não é apenas o presente — mas o futuro em construção.
Segundo a pesquisa State of Data 2024, da Bain & Company em parceria com o Data Hackers, 82,5% das empresas brasileiras já estão desenvolvendo iniciativas em inteligência artificial generativa. E em meio a essa revolução, uma força silenciosa, mas extremamente potente, cresce: os dados. Se o século XIX foi movido a ouro e o XX a petróleo, o XXI tem nos dados sua principal fonte de valor.
A cada clique, cada transação, cada decisão — tudo deixa rastros digitais. E esses rastros, quando analisados com inteligência, viram ouro estratégico.
Um mercado aquecido, global e cada vez mais acessível
A pesquisa ouviu mais de 5 mil profissionais de dados no Brasil e revelou um cenário promissor:
- Aproximadamente 70% se dizem satisfeitos com sua carreira.
- 81,2% apontam a remuneração como o principal fator de escolha por uma empresa.
- 64,7% dos engenheiros de dados preferem trabalhar 100% remoto.
- E o dado mais curioso: 54,2% dos profissionais da área não vieram da tecnologia originalmente.
Isso mostra que estamos falando de um mercado acolhedor para transições de carreira. Engenheiros civis, jornalistas, biomédicos, marqueteiros — todos têm encontrado espaço nessa nova fronteira digital. A palavra-chave? Requalificação.
E os salários acompanham esse cenário: engenheiros e cientistas de dados têm hoje uma média salarial acima de R$ 12 mil, com picos que ultrapassam R$ 25 mil em posições sêniores.
Com tantos caminhos e perfis possíveis, surge uma dúvida natural: afinal, o que exatamente fazem esses profissionais que lidam com dados?
Para quem ainda está se aproximando desse mundo, entender os papéis centrais pode ser a chave para descobrir novas possibilidades — ou, quem sabe, até se enxergar nesse caminho.
As três chaves para destravar o valor dos dados
Imagine uma cidade. Para que ela funcione bem, é preciso ter engenheiros construindo as vias, analistas interpretando o trânsito e estrategistas desenhando o amanhã. No universo dos dados, essa lógica se repete — mas com bits e algoritmos em vez de asfalto e semáforos. Os três pilares mais comuns — e mais necessários — são:
📊 Analista de Dados: o tradutor de números
É quem observa os sinais. Analisa tendências, interpreta métricas, transforma bancos de dados em dashboards que contam histórias. Atua como um elo entre os dados brutos e as decisões do negócio. Se os dados são um idioma complexo, o analista é quem os torna compreensíveis para os times de produto, marketing, vendas e gestão. É uma das portas de entrada mais acessíveis para quem deseja começar — e onde muitos talentos florescem.
🛠️ Engenheiro de Dados: o arquiteto invisível
É o responsável por garantir que os dados estejam disponíveis, confiáveis e bem estruturados. Constrói pipelines (fluxos de dados), organiza bases, cuida da qualidade e da performance. Enquanto o analista vê o que os dados dizem, o engenheiro garante que eles cheguem até lá. É uma função mais técnica, voltada à construção das engrenagens por trás das análises — e, por isso mesmo, uma das mais valorizadas hoje no mercado.
🧠 Cientista de Dados: o inventor de futuros
É o profissional que modela o amanhã. Trabalha com algoritmos, inteligência artificial, predição e descoberta de padrões complexos. Pensa como um pesquisador, atua como um programador e decide como um estrategista. Seu papel é não apenas entender o que os dados contam, mas prever o que está por vir. É uma área que exige formação robusta, mas que também oferece retornos impressionantes — em impacto, inovação e, claro, remuneração.
Esses três papéis não são os únicos, mas formam o alicerce sobre o qual tantas inovações têm sido construídas. E o mais belo disso tudo? Eles não são reservados a gênios da computação ou matemáticos de jaleco. São ocupados por pessoas como eu, você e tantas outras que decidiram dar o próximo passo.
Porque mais do que dominar ferramentas, trabalhar com dados é sobre fazer boas perguntas. É sobre ter curiosidade, senso crítico e vontade de transformar a realidade com base em evidências.
E talvez, ao final desta coluna, você perceba que esse mundo não é tão distante quanto parece. Na verdade, ele já está ao seu redor — e pode muito bem estar esperando por você.
Remoto, global e em ascensão
Outro fator que potencializa o apelo da área de dados é sua natureza desfronteirizada. Com o domínio do inglês e um portfólio técnico bem estruturado, profissionais brasileiros vêm ocupando vagas em empresas na Europa, nos Estados Unidos, no Canadá — e muitas vezes sendo remunerados em dólar ou euro.
Num cenário em que a conectividade é regra, os dados se tornaram uma moeda universal. E quem sabe interpretá-los, modelá-los e protegê-los pode trabalhar de qualquer lugar — inclusive do sofá de casa.
Segundo a pesquisa State of Data 2024, mais de 75% dos profissionais da área afirmam que procurariam outro emprego se sua empresa exigisse um retorno ao presencial. A mensagem é clara: flexibilidade não é mais um bônus — é um valor.
Inteligência Artificial: combustível e bússola
Dentro desse cenário globalizado, a ascensão da Inteligência Artificial não é apenas uma tendência — é uma virada de era.
Mais de 82% das empresas brasileiras já desenvolvem projetos com IA generativa. Dessas, quase um quarto já trata o tema como prioridade absoluta. Isso muda tudo
Os dados, antes usados para olhar o retrovisor, agora alimentam algoritmos que olham à frente. Preveem fraudes, otimizam cadeias de suprimento, personalizam experiências, salvam vidas. A IA é a nova bússola do século XXI — e os dados, seu combustível mais precioso.
Mas com grande poder, vem grande responsabilidade.
Dados: uma questão estratégica — e ética
O mercado de dados não se limita à técnica ou ao lucro. Ele exige uma postura crítica. Em um mundo cada vez mais automatizado, as decisões são tomadas com base em algoritmos — e por trás de cada algoritmo, existe um ser humano programando.
Questões como privacidade, viés algorítmico, vigilância e manipulação de informações já não são mais tópicos de debates acadêmicos: estão no centro das decisões corporativas, políticas e sociais.
O profissional de dados moderno precisa, mais do que nunca, unir habilidades técnicas, consciência ética e compromisso com o impacto social do seu trabalho.
Pode parecer intimidador no começo, mas não é preciso saber tudo para começar. Nesse universo, o mais valioso não é o que você já sabe — mas o quanto está disposto a aprender, experimentar e evoluir.
Conclusão: quem domina os dados, molda o mundo
Em um mundo que respira informação, quem domina os dados escreve o futuro.
E esse futuro já começou.
Seja você um curioso que está dando os primeiros passos, um profissional migrando de carreira ou alguém que já atua na área, uma coisa é certa: entrar nesse mercado é mais do que uma escolha profissional — é posicionar-se no centro das grandes transformações da nossa era.
Nos vemos na próxima coluna.
E até lá, que os dados estejam com você.
👤 Sobre o autor
Engenheiro de Dados, educador, criador do Método DADOS — e agora colunista. Com ampla experiência em tecnologias como Python, SQL, Apache Airflow, BigQuery, SQL Server, Microsoft Fabric, Apache Spark, Docker e Streamlit, compartilho aqui uma visão prática, crítica e humana sobre o universo dos dados. Com storytelling, dados reais e provocações sinceras, minha missão é clara: ajudar você a sair do ruído e construir relevância em um mercado em constante transformação.