
Escrever é mais do que formar frases — é construir sentido. Aqui em Campina Grande, em meio à correria das entregas, reuniões e boletos, percebo cada vez mais o poder transformador da escrita. É ela que organiza o caos dos pensamentos, que traduz emoções embaralhadas, que nos lembra quem somos quando tudo parece nos empurrar para longe de nós mesmos.
A escrita me salvou. Ela foi uma das ferramentas mais potentes no meu processo de cura emocional, de reencontro comigo mesma, de reconstrução do que hoje se tornou o MeTransformei. Lá atrás, entre relatos de dor, cadernos manchados de choro e palavras que eu mal conseguia encarar, fui percebendo: escrever é um jeito silencioso de sobreviver. E mais do que isso — é um jeito potente de viver com presença, de educar-se para dentro e para fora.
Educação em Transformação: Escrevendo o Futuro com a Mão no Presente
É com essa visão que, na Experaí Criativa, lançamos a campanha Educação em Transformação: Reflexões para Escrever o Futuro. Em tempos em que tanto se discute tecnologia, inteligência artificial, neurodiversidade e bem-estar, decidimos partir de um ponto que une tudo isso: a escrita como ferramenta de educação integral.
Sim, a escrita. Aquela que começa com o lápis na mão de uma criança do Fundamental 1 e vai até a elaboração de uma tese ou de um livro autoral. Aquela que, antes de ser um produto final, é um processo de autoconhecimento e desenvolvimento emocional. Porque quando uma criança escreve sobre o que sente, ela aprende sobre si mesma. E quando um adolescente cria um personagem, ele explora seus próprios conflitos.
A escrita educa. A escrita acolhe. A escrita transforma.
Em uma sala de aula onde os estudantes lidam com ansiedade, excesso de estímulos, desinformação e exclusão, escrever é um ato de presença, de síntese e de empoderamento. É por isso que nossos projetos editoriais, oficinas e programas educativos se conectam com temas como:
IA e personalização do ensino, mas sem perder a subjetividade humana.
Educação midiática, para formar leitores críticos e produtores conscientes.
Escola segura, com narrativas que inspiram igualdade e empatia.
Saúde mental e emoções, onde a escrita vira lugar seguro.
Inclusão e neurodiversidade, respeitando jeitos diferentes de aprender e contar histórias.
Cada tema é um convite à escrita como ponte: entre mente e coração, entre indivíduo e sociedade.
Do Caderno ao Mundo: a Escrita como Recurso de Saúde Global
No Brasil, a Norma Regulamentadora nº 1 (NR1) — atualizada em 2022 — reconhece a importância do cuidado com a saúde mental no ambiente de trabalho, estabelecendo que fatores psicossociais precisam ser observados. Se isso vale para adultos no ambiente corporativo, que dirá para crianças e adolescentes na escola?
A escrita, nesse contexto, se apresenta como uma estratégia de bem-estar, não apenas para estudantes, mas também para educadores, líderes e cuidadores. Escrever pode ser um exercício de respiração, de estruturação emocional, de pausa para entender o que se sente. Muitos estudos, inclusive, comprovam que o hábito da escrita expressiva reduz sintomas de estresse, depressão e ansiedade.
E é curioso pensar que, enquanto o mundo inteiro corre para digitalizar tudo, a Suécia — uma das nações mais tecnológicas do planeta — decidiu dar um passo atrás. Depois de anos incentivando tablets e telas nas escolas, o governo sueco anunciou recentemente o retorno obrigatório à escrita à mão no ensino básico, priorizando o desenvolvimento cognitivo e motor dos pequenos.
Não é saudosismo — é ciência. Escrever com as próprias mãos estimula regiões cerebrais ligadas à memória, à criatividade e à atenção. É como se, ao escrever, o cérebro aprendesse a pensar com mais profundidade.
A Escrita Como Ato Político e Poético
Escrever é, sim, uma tecnologia humana. Uma que não se atualiza por comando, mas por experiência. Uma que nos lembra que a educação não é só conteúdo, mas processo de tornar-se.
E é nessa encruzilhada entre o íntimo e o coletivo que seguimos: escrevendo futuros, reescrevendo histórias, imaginando outros mundos possíveis.
No MeTransformei, seguimos criando espaços para escrever emoções. Na Experaí, seguimos formando leitores e escritores que compreendem o poder de cada palavra.
E em cada canto dessa cidade, desse país e desse planeta, seguimos acreditando que escrever é resistir, curar e construir.
Porque quando a palavra encontra o papel, nasce uma ponte entre quem somos e quem podemos ser.
— Julianna Dutra
